(...) 

- Então ouve só: o que eu tenho pra te falar é que...que... -Cody olhou pra baixo, mordeu o lábio e voltou a me olhar.

- Que? -comecei a rir, foi inevitável.

Ele não falou nada e saiu triste. Voltei a me deitar e meu celular vibrou. Era uma mensagem dele "i love you". Bem assim, bem seco. O que secou também foi a minha boca, meu coração acelerou, fechei os olhos por alguns segundos e li de novo, era aquilo mesmo. Fui responder mas meus dedos não se moviam e eu não fazia ideia do que escrever, um "eu também" talvez ou "você é bipolar", não sei.

De repente chega outra "e eu passei dias tentando te falar isso, tentei escrever uma música, falar cara à cara (o que não deu certo), pensei em você até as 2 da manhã e tentei até te esquecer, mas não deu, não consegui, talvez você não acredite, talvez eu esteja louco, mas sinceramente eu amo você."

Deixei o celular de lado, duvido que seja ele escrevendo. Voltei a dormir e acordei às 20h quando Math veio me acordar.

- Levanta, palhaça, já é tarde.

- Sai.

- Não.

- Você é pesado, sai.

- Tá me chamando de gordo?

- Tô.

- Eu quero fazer outra tatuagem e vim pedir sua opinião.

- Minha opinião: não faça.

- Vou fazer uma igual a que você tem na perna.

- Vira homem.

- Brincadeira! -ele riu- Desce, tá todo mundo lá em baixo.

- Todo mundo quem?

- Josh, Cambo, Jake, Cody, Joel e Ruby.

- E a Alli?

- Deve estar lá, não sei quem é essa.

- Para de criancisse. -eu disse e o empurrei. Fui ao banheiro, fiz xixi, lavei o rosto, ajeitei minha roupa e prendi meu cabelo num rabo de cavalo.

Descemos e no meio da escada Justin desceu correndo ao nosso lado e Brandon desceu atrás dele.

- Desde quando o Brandon já desce escada? -perguntei.

- É uma boa pergunta. -respondeu Math.

- Mas ele desce devagar, que engraçado. -comecei a rir.

- JUSTIN, NÃO CORRE, O BRANDON É PEQUENO, ELE NUNCA VAI TE ALCANÇAR! -disse Math.

- Problema é dele, ele que quis brincar. -disse Justin parando. Brandon terminou de descer as escadas e quando ia encostar a mãozinha no Justin ele fugiu.

Brandon ficou ali parado e começou a chorar.

- Mano, cala a boca. -disse me jogando no sofá no meio dos meus amigos. Math foi até ele e o pegou no colo.

- Ele foi lá pra fora e você sabe que tu não pode ir. -disse Math.

- Mas ele pegou o meu boneco. -disse Brandon no colo do Math esfregando os olhos. 

- Eu preciso falar com você. -Cody sussurrou.

- Eu não quero falar com você. -disse olhando para o celular. Ele apertou o botão de bloquear e eu olhei pra ele.

- Você não tem que querer. -ele me puxou e fomos lá pra fora.

- O que você quer? -perguntei cruzando os braços. 

- Eu disse que ainda gostava de você e você riu!

- Ri mesmo. Cody, desde a última vez que a gente terminou foi porque você disse que desde o início você FINGIU gostar de mim. Acha que sou idiota?

- Acho. Menina, se eu pudesse... -ele disse fechando a mão. 

- Mas não pode. -sorri irônica- Olha o tanto de testemunha. E só pra lembrar, os seguranças aqui de fora são armados. -disse olhando em volta, haviam seguranças por toda parte- Cody, larga a mão de ser trouxa! Eu ri porque eu não acredito! Você acha que é assim? Você finge que se arrepende, eu acredito e a gente volta a ficar junto?!

- Eu não tava mentindo.

- A questão é que você sempre tá mentindo. -pausei- E eu tenho namorado.

- SEU NAMORADO É TRAFICANTE! 

- Fala baixo! -olhei para os lados- É, ele é louco. -sorri falsa.

- Não falo!

- TÁ VENDO? VOCÊ SÓ ME TRATA MAL E AINDA QUER QUE A GENTE VOLTE? 

- ME FALA QUANDO FOI QUE EU TE TRATEI MAL!

- Toda vez que você me bateu e mesmo depois de ter terminado você continua me ameaçando, por metade da sua culpa eu fui parar naquela reabilitação, eu pareço que não ligo pra isso, mas a partir de agora saiba que toda menina liga quando alguém chama ela de gorda, você vivia me xingando e gritando comigo do jeitinho que tá fazendo agora sem motivo nenhum, você tem um ciúmes incrivelmente incontrolável e chato, vê coisa onde não tem, você...

- Cala a boca. -ele me interrompeu, meus olhos já haviam começado a marejar- Já devia ter parado na parte da reabilitação. Que culpa eu tive se você foi pra lá?!

- CODY, QUANDO EU FUI PARAR NO HOSPITAL TINHA 300 GRAMAS DE COCAÍNA NO MEU SANGUE! TODA VEZ QUE VOCÊ ME BATIA, EU FICAVA TRISTE, EU USAVA PRA VER SE A DOR PASSAVA! -as lágrimas começaram a correr.

- Tá, tá bom.

- VIU?! EU ODEIO QUANDO VOCÊ FALA DESSE JEITO COMIGO!

- EU ODEIO QUANDO VOCÊ CHORA!

- SE NÃO TEM PACIÊNCIA, COMO QUER NAMORADO COM ALGUÉM?!

- Você é quem me faz perder a paciência, você é quem me faz ficar louco, você é quem me tira do sério! -ele disse já parecendo um pimentão. 

Fiz um jóinha, enfiei na cara dele e entrei na casa, ele veio atrás. Limpei as lágrimas, sentei no sofá e continuei mexendo no celular. 

- Só ouvi berros, tá tudo bem, casal? -perguntou Alli. 

- Casal o caralho. -disse Cody bravo.

- Exatamente. -concordei.

- Você cala a boca. -disse Cody.

- Por que você não vem calar? 

- Porque você não vale à pena.

- Tenho outro muito mais macho que você que acha que eu valho. 

- O Mike? Só não dou risada porque seria mais falso que você. O que ele disse a última vez que se viram? Aposto que não foi isso. 

- Aposto que não é da sua conta. Ele me pediu em casamento. -zoei. 

- QUE?! -o copo de água que ele estava segurando caiu no chão e quebrou- REPETE! 

Levantei porque agora ele me tirou do sério. Ele já estava em pé tomando aquela água que se esparramou pra se acalmar.

- CODY, EU VOU MATAR VOCÊ! -joguei o celular no sofá, senti meu rosto arder.

- VOCÊ?! EU VOU TE MATAR PRIMEIRO, EU NÃO AGUENTO MAIS VOCÊ NA MINHA FRENTE, PUTA que pariu.

- ME CHAMOU DE QUÊ?! -eu disse indo pra cima dele e ele fez o mesmo já com a mão fechada, mas senti alguém me segurar pela cintura e vi Math segurando por trás os braços de Cody. 

- EU NÃO TE CHAMEI DE NADA, QUEM É O PARANÓICO AGORA?!

- ME SOLTA! -disse ao ver que era Jake me segurando, meus pés nem tocavam no chão e eu ficava me mexendo.

- SOLTA ELA PRA MIM MATAR! -disse Cody. 

- PAREM COM ISSO! -berrou Alli- VOCÊS CHEGARAM NO PONTO DE SE BATEREM? É ISSO MESMO QUE EU TÔ VENDO?!

- NÃO SE INTROMETE, ALLI! -falamos juntos- NÃO FALA JUNTO COMIGO!

- JAKE, ME SOLTA! -gritei.

-  VOCÊ TAMBÉM! -disse Cody ao meu irmão. 

- Você fechou a mão pra bater na minha irmã, não vou te soltar, quem garante que tu não ia bater mesmo? -disse Math calmo porém num tom ameaçador no ouvido dele.

- Eu nunca faria isso. -disse Cody se soltando.

(...)

Mentiroso! Mentiroso! Mentiroso! "Eu nunca faria isso". Até parece! Choro de raiva só de lembrar, o pior é que eu gosto dele. Cody é o tipo de pessoa que você consegue amar, só não gosta das atitudes. Tomei banho, vesti meu pijama e fui escrever sobre isso, até porque eu não posso contar pra ninguém que ele me batia e tá disposto a fazer de novo.
O Mike sabe mas é por respeito à mim que ele não faz nada, eu deveria deixar mas não consigo. Não consigo porque a culpa por ser responsável pela morte de alguém deve ser enorme. Por falar nisso, peguei meu celular e liguei pro Bentler. 

- Amor...

- O que aconteceu? -ele perguntou com uma voz diferente. 

- Por que?

- Porque você nunca me chama assim, é só Mike, Bentler ou idiota. Aliás, como tá seu peguete? Espero que pronto pra tomar um tiro.

- Eu e ele não temos nada!

- Mas ele quer!

- Não inventa.

- CARALHO, (SEUNOME), EU JÁ NÃO POSSO FICAR COM VOCÊ O DIA TODO, TU NÃO SABE O QUANTO EU FICO MORDIDO COM ESSES SEUS AMIGOS, PORRA! 

- VOCÊ NÃO ACREDITA EM MIM, ESSE É O ÚNICO PROBLEMA! 

- VOCÊ AINDA SE ACHA NO DIREITO DE DIZER ISSO? ESSES DIAS MESMO EU CONFIANDO EM VOCÊ AÍ DO NADA VOCÊ ME VEM E DISSE QUE TRANSOU COM A LOIRA VIADINHA! 

- ...

- RESPONDE AGORA, PORRA! 

- Vai logo, caralho. -ouvi uma voz de mulher falar.

- Quem tá aí? -perguntei.

- Ninguém, eu tô atrasado pra fazer umas coisas.

- Que coisas? COM QUEM?

- Com ninguém que te interesse.

- Não fala assim comigo.

- Se acostuma porque de agora em diante vai ser assim. -ele disse e se fez silêncio. 


- Tá, eu só queria dizer que... de verdade não aconteceu nada, acho que você não vai querer me ver mesmo assim.

- Eu tenho umas entregas pra fazer, depois eu te ligo.

Não disse nada e desliguei. Entregas, drogas, deixa ele. Deitei e fiquei mexendo no celular. Eu ainda tinha algumas fotos com Cody. Agora vai ver se eu posso tirar foto com o Mike, se alguém pega meu celular, já era. 
Chegou uma mensagem do Lucas "Eu sinto falta de conversar com você" "Nem me fale, seu irmão me tira do sério" "A Abby me tira do sério. Não acredito que você ainda tá com ele" "Tô. E como vão as coisas com a Abby?" "Um de cada vez, primeiro me fala do meu irmão que eu fiquei bravo, SÉRIO!" "Ele começou a me tratar mal" "Ele trata todo mundo mal" "Eu não! Do nada ele ficou assim" "Qual é, se você mandar ele se entregar pra polícia, ele vai e faz. O que você fez?" "Traí ele com o Cody e agora desconfia de mim e do Joel. DO JOEL!" "Aquele seu amigo que """""""trabalha""""""" com ele?" "VOCÊ SABIA?" "Sei de tanta coisa que não deveria saber". "Preciso ouvir você falando isso".

Liguei pra ele. 

- Fala. -eu disse.

- Eu sempre soube que seu amigo andava com ele.

- E por que não me contou?

- Qual a parte do "meu irmão é o Mike Bentler" que você não entendeu?

- Eu deveria te bater por isso. 

- Eu deveria ficar com medo? -ele riu.

- Idiota.

- E também tem alguns meninos do terceiro ano no meio, os mais peludos com cara de pai de família. Aí tem outros de nem sei onde e por aí vai, deve dar uns vinte.

- E a mulher?

- Wow. -ele riu.

- Que foi? Ela me disse que era prima dele.

- Ela te disse uma grande mentira.

- Lucas, por favor, fala que você tá brincando. -eu disse fechando os olhos e respirando fundo. 

- Não tô brincando, eu sei que ela dá pra todo mundo, só não sei como ela foi parar lá. 

- Tá, vamos mudar de assunto antes que eu pire. Me conte sobre a Abby. 

- Fiz a pior burrada.

- O que? 

- Tô começando a amar ela. 

- Lucas, por favor, fala que você tá brincando.

- Não tô brincando, eu só não sei como isso foi acontecer. Bom, tirando o fato de que agora eu literalmente vivo com ela...

- Imagino.

- O bom é que tendo alguma coisa pra fazer, quero dizer, tendo ela pra me encher o saco, desde então nem maconha eu fumei mais.

- A minha vontade de me intupir de novo de porcaria é grande porque o Cody me tira do sério. 

- Oxe, por que? Vocês não term...espera, você ainda gosta dele?

- Sim. -suspirei.

- Você tá doida?! -ele pareceu sussurrar alto- Se o meu irmão descobre!

- Relaxa.

- Só você fica relaxada ao lado dele! E ele é feio.

Ri.

- Vocês são muito parecidos, sério. 

- Tirando o fato de que eu tenho um número bastante considerável à menos de tatuagens.

- O Math tá perdendo a linha também. 

- Esse daí sempre perde a linha. Não fala pra ele porque o soco dele dói. Tô até com saudade da escola. 

- Você não sabe o que fala.

- Acredite, a responsabilidade é menor do que a de ser pai.

- Deve ser, com certeza.

Bateram na porta. Uma das empregadas abriu.

- Com licença, senhorita. Tenho que pedir que desligue o celular. -ela disse.

- Por que? Quem mandou?

- Sua mãe. 

- Manda ela ir se f...aliás, fala pra ela que eu não vou desligar.

- É que ela disse...

- Eu não ligo pro que ela diz, obrigada, agora sai e fecha a porta. -eu disse e ela saiu.

- Aulas de delicadeza com você, tô precisando. -disse Lucas.

- Que saco! É toda hora "não vai comer nada?" "quer alguma coisa?". Se eu quiser, eu peço, mano! 

- Nem me fale nisso, a Abby parece que faz pra irritar quando fica sem comer por dias.

- Dá uns tapas. -fiz uma pausa- Brincadeira, fala sério com ela, tipo, ela tá grávida e acredito que isso além de ser ruim pra ela, deve ser horrível pro bebê. 

- Então! -ele disse e parou- Ela já tá me chamando, acho que vou lá antes que eu acabe levando uns tapas. 

- Vai lá. Boa noite.

- Pra você também. -ele disse e desligou.

(...)

No outro dia acordei, tomei banho e me vesti: